A integração de recursos educativos em contexto de estágio na disciplina de Matemática do 2.º Ciclo do Ensino Básico
Trabajo Nº:RES0131
Tipo:Oral
Tema:El Prácticum en los másteres y posgrados
Autores: Ana Paula Florêncio Aires
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Matemática)
aaires@utad.pt


Joaquim José Jacinto Escola
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (de Educação e Psicologia)
jescola@utad.pt
Keywords:Recursos de ensino; Prática de Ensino Supervisionada, 2.º Ciclo do Ensino Básico; Matemática.
INTRODUCCIÓN

Esta investigação tem como núcleo central a utilização de meios e recursos educativos na Prática de Ensino Supervisionada (normalmente designado de Estágio) de estudantes do mestrado em Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico e de Matemática e Ciências Naturais no 2.º Ciclo do Ensino Básico, oferecido por uma instituição de ensino superior público, no norte de Portugal. Os dois anos do mestrado culminam no segundo ano com dois estágios, dividido em três grandes momentos de intervenção. O primeiro semestre (setembro a janeiro) é integralmente dedicado ao 1.º Ciclo do ensino básico e o segundo semestre (de fevereiro a junho) voltado para o 2.º ciclo do ensino básico. Este segundo encontra-se dividido pelas áreas da Matemática e Ciências Naturais. Os estágios foram realizados por cinco estudantes e constituem um período muito relevante na formação para o exercício profissional, abrindo um importante espaço para a investigação sobre as práticas, fornecendo indicadores relevantes sobre o modo como são abordados os conteúdos lecionados pelos estudantes na área da matemática, durante o estágio correspondente.

Os participantes neste estudo realizaram os seus estágios no 2.º Ciclo do Ensino Básico num agrupamento de escolas da cidade de Vila Real, no norte de Portugal, divididos em dois núcleos de estágio (um com três estudantes e outro com dois estudantes), acompanhados por um professor cooperante da escola e pelo orientador científica da universidade. Neste trabalho vamos apenas focar-nos no estágio realizado na disciplina de Matemática do 2.º Ciclo do Ensino Básico. Procuramos abordar num primeiro momento a utilização de meios e recursos de ensino, no segundo momento a metodologia adotada, e por fim discutir os principais resultados obtidos e estabelecer algumas conclusões.

 

INTEGRAÇÃO DE MEIOS E RECURSOS DE ENSINO

Tem havido alguma diversidade de designações para abordar os suportes, dispositivos, instrumentos, materiais, de que se servem os professores na sua intervenção quotidiana nas salas de aula enquanto ensinam matemática em todos os níveis de ensino e em particular no 2.º Ciclo do Ensino Básico.  Ao longo do tempo foram sendo apresentadas várias definições. Cid Sabucedo, (2002), entre outros, teve o trabalho de compilar um conjunto vasto de definições que foram sendo apresentadas sobre os dispositivos de ensino. Em articulação com esse esforço discutiu alguns dos conceitos mais frequentes quando se fala de suportes, dispositivos e instrumentos para a ação educativa, para a intervenção do professor. Das várias definições de meios e recursos as propostas com que nos confrontamos destacamos as de Allen (1970), Cebrian de la Serna (1991), Alonso & Gallego, (1993) e Moreno Herrero.

Allen (1970, citado por Cid Sabucedo et al., 2002, p.28) define meio considerando que

“Un medio es un recurso instruccional que representa todos los aspetos de la mediación de la instrucción a través del empleo de eventos reproducibles. Incluye los materiales, los instrumentos que llevan esos materiales, a los alumnos y las técnicas o métodos empleados”.

Cebrián de la Serna (1991, citado por Cid Sabucedo et al., 2002) propõe uma definição muito consistente e, simultaneamente cobrindo um horizonte mais amplo, dos meios e recursos didáticos, não os circunscrevendo à dimensão instrumental a que têm ficado associados, mas ao mesmo tempo a ligação aos espaços geográficos e contextos culturais passíveis de favorecer a (re)construção do conhecimento.

“Los medio y recursos didáticos son todos los objetos, equipos y aparatos tecnológicos, espácios y lugares de interés cultural, programas o itinerarios medioambientales, materiales educativo… que, en unos casos utilizan diferentes formas de representación simbólica, y en outros, son referentes diretos de la realidad. Estando siempre sujetos al análisis de los contextos y princípios didácticos e introducidos en un programa de enseñanza, favorecen la reconstrucción del conocimiento y de los significados culturales del curriculum”.

Os autores Alonso e Gallego (1993, citados por Cid Sabucedo et al., 2002) propõem uma conceção de meio onde pode ser integrado qualquer objeto ou recurso tecnológico, que seja facilitador da estruturação, através de uma linguagem específica, de mensagens que pretendem concretizar uma finalidade de ensino. Escrevem os autores: “Un medio es cualquier objeto o recurso tecnológico que articula, en un determinado sistema de símbolos, ciertos mensajes en orden a su funcionamento instrutivo” (1993, citado por Cid Sabucedo et al., 2002, p. 28).

Moreno Herrero (2004, p.3) defende que recurso é um conceito mais vasto, compreendendo ou incluindo os conceitos de meios e os materiais didáticos, pondo em confronto ambas definições:

“(…) recurso es una forma de actuar, o más bien la capacidad de decidir sobre el tipo de estratégias que se van a utilizar en los procesos de enseñanza; es, por tanto, una característica inherente a la capacidad de acción de las personas.Los medios didácticos podríamos definirlos como el instrumento del que nos servimos para la construcción del conocimiento; y, finalmente, los materiales didácticos serían los productos diseñados para ayudar en los procesos de aprendizaje.” 

Dos conceitos que explorámos e na linha de Cid Sabudedo e outros (2002, p.51) é legítimo identificar algumas dimensões estruturantes para a concetualização da noção de meios. Neste sentido considerámos que os meios deverão ser transmissores de informação, facilitadores de experiências indiretas da realidade, mediadores e, ao mesmo tempo, facilitadores no processo de ensino e de aprendizagem e, por fim, os meios devem estar associados quer a um equipamento técnico, quer à organização didática das mensagens.

O Programa de Matemática e as Metas Curriculares do Ensino Básico em vigor (Ministério da Educação e Ciência, 2013), ao contrário dos anteriores, não estabelece um conjunto de orientações específicas para o ensino de cada conteúdo. A prática mais frequente, anteriormente era a de deixar em cada um dos cinco domínios de conteúdos previstos no 2.º Ciclo do Ensino Básico, a saber: Números e Operações (NO); Geometria e Medida (GM); Álgebra (ALG); Organização e Tratamento de Dados (OTD),indicações muito precisas sobre o modo, as estratégias e os recursos considerados mais adequados que os professores deviam seguir. O atual programa deixa uma imensa margem de liberdade ao docente de planificar as suas aulas, de construir a sua prática. De facto neste programa pode ler-se:

“Tendo em consideração, tal como para os níveis de desempenho, as circunstâncias de ensino (de modo muito particular, as características das turmas e dos alunos), as escolas e os professores devem decidir quais as metodologias e os recursos mais adequados para auxiliar os seus alunos a alcançar os desempenhos definidos nas Metas Curriculares.

A experiência acumulada dos professores e das escolas é um elemento fundamental no sucesso de qualquer projeto educativo, não se pretendendo, por isso, espartilhar e diminuir a sua liberdade pedagógica nem condicionar a sua prática letiva. Pelo contrário, o presente Programa reconhece e valoriza a autonomia dos professores e das escolas, não impondo portanto metodologias específicas” (Ministério da Educação e Ciência, 2013, p. 28).

Ao invés, os manuais adotados, de forma quase invariável apresentam sugestões de desenvolvimento curricular em cada domínio, não cortando também a liberdade de cada docente se apropriar e estruturar a sua intervenção.

Nesta investigação considerámos a problemática da utilização de meios e recursos de ensino por parte dos estudantes no mestrado em Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico e de Matemática e Ciências Naturais no 2.º Ciclo do Ensino Básico. Ainda que se tenham utilizados várias fontes de recolha de dados, os portefólios elaborados pelas estudantes constituíram a base essencial para a identificação, análise e discussão da utilização dos recursos no ensino de matemática ao longo do Estágio.

METODOLOGÍA

A metodologia que escolhemos para realizar esta investigação reveste-se de um cariz qualitativo e descritivo, seguindo um design de estudo de caso (Berg, 2009; Erickson, 1986; Yin, 2014). Estabelecemos como objetivo principal desta investigação avaliar o desempenho de futuros professores de Matemática do 2.º Ciclo do Ensino Básico, relativamente à integração de recursos educativos nas aulas de Matemática. Considerámos ainda os seguintes objetivos específicos: 1) descrever o modo como no âmbito do estágio na disciplina de Matemática no 2.º ciclo do Ensino Básico, os estudantes na planificação das suas atividades fizeram uso dos recursos de ensino; 2) compreender se concederam importância, à problemática do uso das tecnologias (Silva, 2016, 93-94); 3) identificar os meios e recursos educativos integrados nas práticas de ensino; 5) verificar se houve um equilibrada e variedade de meios e recursos de ensino nas planificações dos estagiários.

Participaram todos os estudantes matriculados na unidade curricular de Prática de Ensino Supervisionada nesse ano letivo. Os cinco participantes na investigação realizaram o seu estágio em duas turmas do 6.º ano de escolaridade do 2.º Ciclo do Ensino Básico, num agrupamento de escolas público, com quem a Instituição de ensino superior tem protocolo de colaboração. A investigação decorreu no segundo semestre do ano letivo de 2017-18, entre fevereiro e junho de 2018. O período de responsabilização dos estudantes foi constituído pela lecionação de dez aulas de 90 minutos cada uma. As restantes horas que compõem o estágio foram utilizadas para a observação da prática letiva da professora cooperante e dos restantes elementos de cada grupo de estágio, e ainda para o apoio (período de cooperação) antes do início da responsabilização.

Como instrumentos de recolha de dados privilegiámos a observação não participante, análise documental e o portefólio produzido por cada estudante durante a sua Prática de Ensino Supervisionada (Sá-Chaves, 2005; Pinto & Santos, 2006; Moreira, 2010). Para a análise dos dados, fizemos uso da técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1995) para visar a análise documental e a análise da produção escrita no portefólio individual. Estabelecemos um conjunto de categorias a priori e as que foram estabelecidas a posterior resultaram da leitura flutuante deste corpus. As categorias de análise que foram as seguintes: Meios e recursos de ensino tradicionais; Jogos, Dispositivos tecnológicos/ TIC; Plataformas de ensino.

RESULTADOS

 Neste ponto vamos proceder à apresentação e análise dos resultados obtidos. Num primeiro momento procuramos identificar todos os recursos utilizados pelos estagiários na sua prática letiva e, num segundo momento, procedemos à elaboração de uma tabela com a análise das categorias que estabelecemos para a apreciação dos recursos utilizados por cada um dos estagiários. Se na primeira tabela temos o cuidado em identificar todos os recursos, na segunda tabela procuramos integrar esses mesmos recursos em categorias. Nesta tabela identificámos como primeira categoria “Meios e recursos de Ensino tradicionais”, como segunda categoria “Jogos”, como terceira “Dispositivos tecnológicos / TIC” e por fim, como quarta categoria “Plataformas de ensino”.

 

Meios e Recursos de Ensino

Neste apartado procuramos fazer a identificação dos meios e recursos utilizados por cada estagiário. Estabelecemos uma tabela com seis colunas (Tabela 1). Na primeira consideramos todos os meios e recursos de ensino utilizados ao longo do estágio, pelos estagiários. As cinco seguintes colunas dizem respeito a cada um dos estagiários (aqui designados pelas siglas E1, E2, E3, E4, E5), e têm como objetivo identificar o tipo de recursos e, ao mesmo tempo, registar os recursos utilizados por cada um dos estagiários.

 

 

 

Da análise de conteúdo dos portefólios foi possível identificar dezasseis recursos. De referir que estão presentes em todos os portefólios analisados o manual escolar e as fichas de trabalho. Estas últimas foram utilizadas para confirmar as aprendizagens durante a aula ou mesmo para reforçar as aprendizagens, quando os alunos ficam com a tarefa de realizarem alguns exercícios em casa. Este elemento é bastante frequente nos portefólios e nas planificações elaboradas para as dez aulas que tinham que lecionar. A constante preocupação com a melhoria dos resultados e com a qualidade do sucesso dos alunos no 2.º Ciclo do Ensino Básico encontra neste recurso um auxiliar precioso sobre a qualidade das aprendizagens, a identificação dos domínios onde as dificuldades são mais evidentes.

Os programas de apresentação e organização de informação do tipo Power point e Prezi são também utilizados por todos. O cuidado em estruturar / organizar / apresentar os conteúdos privilegiou o recurso aos programas de apresentação. O professor estagiário tem consciência que ao preparar estas apresentações consegue, de forma mais estruturada, apresentar a informação mais relevante e, ao mesmo tempo, disponibilizar essa mesma estrutura ao aluno, possibilitando-lhe a consulta da mesma sempre que surjam dificuldades ou dúvidas.

A Escola virtual, uma plataforma de ensino ligada a uma das editoras mais consagradas em Portugal, a Porto Editora, também esteve presente como recurso em todos os portefólios.

A Escola Virtual é uma plataforma de educação online e tem como objetivo criar um espaço inovador com a finalidade de promover o sucesso escolar a todos os estudantes.

Carateriza-se por ser um projeto de ensino utilizado em centenas de escolas do país, que converte os conteúdos das disciplinas do 1.º ao 12.º anos de escolaridade em aulas interativas. Animações, vídeos, simulações e exercícios tornam a aprendizagem mais envolvente e intuitiva, permitindo igualmente testar e avaliar os conhecimentos (Porto Editora, 2014).

Esta plataforma promove um acesso sem restrições temporais a todos os alunos. Propõe ser um espaço facilitador do estudo de cada um, mais atrativo e estimulante para todos os alunos. Poderemos encontrar disponível na plataforma diferentes conteúdos programáticos de cada uma das disciplinas, agregando vários recursos multimédia, passíveis de serem acessíveis a qualquer aluno, o que permite que aluno aprenda ao seu próprio ritmo e de uma forma flexível.

A criação desta plataforma, por parte da Porto Editora, teve como intuito prioritário tornar as aulas mais dinâmicas e minimizar a monotonia nas salas de aulas. A cada aluno é concedida a possibilidade de interagir, respeitando o seu próprio ritmo de aprendizagem, promovendo a descoberta e assimilação de conceitos, na própria resolução de exercícios e no aprofundamento das matérias, tornando-se um agente ativo do processo de aprendizagem.

A plataforma disponibiliza aos professores e aos alunos diferentes elementos multimédia (animações, vídeos, locuções, etc.) que ilustram e explicam os conceitos abordados e exercícios que avaliam o desempenho do aluno em cada matéria, tornando o estudo mais eficaz e motivador.          

A Escola Virtual está conectada aos manuais escolares e deste modo os manuais utilizados ofereciam aos professores o acesso à Escola Virtual, aliando os meios tradicionais a um vasto conjunto de conteúdos animados e interativos que permitem complementar as aulas e ensinar/aprender com mais motivação e eficácia. 

Para além do espaço tradicionais de apoio (recursos de ensino, apoio, testes, registos, entre outros) a plataforma tem ainda um espaço que designa por “comunidade”, que à imagem das redes sociais permite a interação entre os professores e alunos, como se do facebook se tratasse. Neste espaço o professor troca mensagens e faz a tutoria aos seus alunos.

Na descrição da plataforma destacamos a opção Dicionários, onde é apresentadauma apreciável escolha de dicionários postos à disposição de professores e alunos para consulta. A pesquisa pode ser feita por palavra ou selecionar o dicionário de que nos pretendemos servir para consultar.

Chamamos ainda à atenção para a opção Comunidade, que apareceu como grande novidade da Escola Virtual no ano letivo 2012-13: uma rede social segura para comunicar e trocar ideias com outros colegas de todo o país, utilizadores da Escola Virtual” (Porto Editora, 2014) que, como é do conhecimento de todos as redes sociais hoje em dia têm um papel muito integrante no processo de socialização dos alunos.

Um grande potencial da opção Comunidade é a colaboração e partilha entre alunos e agentes educativos, poderem comunicar com colegas mas também com os alunos, através de um chat.

A opção Comunidade revela uma grande semelhança com a rede social Facebook sobejamente conhecida por todos. Neste espaço é-nos permitido editar o nosso perfil, adicionar fotos pessoais, inscrever dados pessoais entre outros. É-nos também concedida a possibilidade de criar um blog e um fórum pessoal. ​

Em suma, esta plataforma de ensino disponibiliza vários recursos (escritos, visuais, audiovisuais, hipertextuais) com destaque para o manual digital, fichas de trabalho, power points temáticos, vídeos e clips, vários tipos de provas de avaliação, entre outras possibilidades. Os estagiários recorreram a esta plataforma, integrando-a na sua prática letiva. Verificámos que se serviram sobretudo de alguns dos vídeos aí presentes, geralmente com o objetivo de motivar os alunos para a primeira abordagem de um novo conceito ou ainda, para sintetizar os conteúdos apreendidos numa aula.

O jogo como estratégia educativa e como suporte às aprendizagens é a marca da intervenção destes estudantes. Como podemos constatar na tabela 1, os estudantes conceberam uma variedade muito grande de jogos didáticos para aplicarem aos vários conteúdos. Em alguns casos socorreram-se de jogos tradicionais como o bingo, o dominó, o jogo da glória mantendo as regras do jogo original, mas adaptando-os aos conteúdos que tinham que lecionar. Para além da dimensão lúdica a que estes estão associados os alunos acabam, com maior motivação por compreender conteúdos matemáticos.

São vários os autores que têm vindo a estudar as potencialidades do jogo nos processos de ensino e de aprendizagem da matemática. Para as autoras Darlinda Moreira e Isolina Oliveira o jogo é parte integrante da Matemática e uma constante na convivência diária com este conhecimento” (2004, p.65). Moura e Viamonte (2006), referem que o jogo é muitas vezes potenciador da introdução da linguagem matemática no vocabulário do aluno e salientam que uma das vantagens principais da utilização de jogos na aprendizagem da matemática é que os alunos ganham gosto pela matemática e aprendem esta disciplina de uma forma interessante e envolvente. Defendem ainda que os jogos podem ter diversas finalidades, com por exemplo, “podem ser utilizados para introduzir, amadurecer conteúdos e preparar o estudante para aprofundar os itens já trabalhados e para adquirir conceitos matemáticos importantes” (Moura & Viamonte, 2006, p.3). Assim, através dos jogos o professor pode verificar se os conteúdos foram bem assimilados pelo aluno e ainda, que este se torna mais crítico e confiante tirando conclusões sem necessidade de inferência por parte do professor.

Parece-nos que Moreira e Oliveira sintetizam de uma forma muito assertiva a importância da integração de jogos nas aulas de matemática e a possibilidade dos alunos jogarem quando defendem que

“(…) jogar permite desenvolver nas crianças conhecimentos matemáticos e a capacidade de resolver problemas tornando-as auto-confiantes, criativas e capazes de discutir os seus conhecimentos e ideias. Permite ainda que as crianças construam o seu conhecimento sobre as suas capacidades, o seu raciocínio, as suas preferências e a forma como conseguem estabelecer relações entre noções e significados matemáticos” (2004, p. 94).

O jogo “Quem quer ser matemático” foi utilizado por todos os estagiários nas últimas aulas como forma de consolidar os conteúdos que tinham sido lecionados ao longo do estágio. Foi idealizado com base no famoso programa televisivo “Quem quer ser milionário”. Este foi um jogo em que os alunos se encontravam em grupos sendo que cada grupo poderia apenas dar uma resposta, ou seja, cada grupo de alunos funcionavam como um só. No programa televiso o jogo consiste numa série de perguntas em que o jogador tem de responder de forma correta a todas as perguntas para se tornar milionário. Cada resposta certa tem um determinado valor monetário que vai aumentando a cada resposta certa, caso erre uma resposta perde tudo. À semelhança do jogo televisivo, os estagiários prepararam uma série de perguntas de acordo com os conteúdos lecionados, para que os grupos respondessem. A diferença é que os grupos tinham uma folha onde colocavam as respostas e as perguntas surgiam uma atrás da outra com um tempo limite de trinta segundos. Este jogo tinha como suporte um documento em Power point editado de forma a se parecer o mais possível com o “Quem quer ser milionário”, e uma folha de resposta para cada grupo. No final havia um slide com todas as respostas e os alunos faziam a correção. Para não existirem desconfianças, as folhas das respostas eram trocadas pelos grupos e assim cada grupo corrigia uma folha que não era a sua. No final do jogo o grupo que contabilizasse mais respostas certas era o vencedor e cada elemento do grupo recebia l uma medalha onde se podia ler “Eu sou matemático”.

Durante o decorrer do jogo implementado pelos cinco estagiários, podemos verificar que a maioria dos grupos não precisava dos trinta segundos para responder às questões. Eles liam a questão, dentro do grupo respondiam e se todos estivessem de acordo colocavam a resposta na folha, caso contrário discutiam a questão até chegarem a um consenso. 

Ao longo de todo o ano letivo e em particular, ao longo dos meses em que decorreu o estágio, houve uma aposta por parte da professora cooperante e por parte dos estagiários em trabalhar em todas as aulas a tabuada. Este investimento levou a que todos os estagiários construíssem vários jogos que auxiliassem no trabalho e no desenvolvimento desta competência.

Neste quadro da integração do jogo destacamos ainda a utilização do kahoot pelas possibilidades / vantagens didáticas que encerra para a aprendizagem dos estudantes. O Kahoot é uma plataforma informática gratuita que segundo Rodríguez-Fernández (2017) tem vindo a ganhar popularidade entre os docentes pela sua fácil utilização e pela sua capacidade de estabelecer uma dinâmica de trabalho ativo na sala de aula. Esta aplicação permite elaborar questionários “online” de múltipla escolha, que o professor providencialmente elabora e que dá a possibilidade de os alunos responderem através dos seus smartphones ou tablets.

A realização do Kahoot, assemelha-se aos mediáticos jogos de perguntas de escolha múltipla, e implica que os alunos tenham ao seu dispor tablets ou smartphones, para poderem validar as suas respostas. Precedentemente, esta plataforma online oferece a possibilidade de editar e formular as questões que o utilizador desejar, antes da realização do jogo com os alunos, o que permite criar perguntas relacionadas com os conteúdos que se pretendem avaliar. No final da realização de cada jogo, o Kahoot gera, de forma automática, um documento em excel com as informações estatísticas da performance de cada aluno, disponibilizando uma análise individualizada das suas dificuldades e sucessos, em cada questão. Este facto constitui-se como uma mais valia para o trabalho do professor pois facilita-lhe a análise dos resultados, o que se traduz numa diminuição do tempo que, de outra forma, teria que gastar na correção de respostas e organização de dados.

Assim, o Kahoot configura-se como um recurso pedagógico extremamente vantajoso possibilitando aos alunos, num ambiente que lhe é muito familiar, trabalhar vários conteúdos matemáticos.

 

Categorias de meios e recursos de ensino utilizados

Mais do que contabilizar as atividades realizadas por todas os estagiários o que se pretendeu nesta investigação foi identificar o tipo de meios e recursos didáticos (tradicionais ou saídos da revolução informática), os jogos, dispositivos tecnológicos / TIC, e, por fim, o recurso a plataformas de ensino. Na tabela 2 podemos analisar e confirmar esta identificação.

 

 

Assim pudemos verificar que os estagiários realizaram várias atividades recorrendo quer a recursos mais tradicionais, donde destacamos a utilização do manual escolar adotado para o 6.º ano de escolaridade, na instituição de ensino onde foi realizado o estágio na disciplina de Matemática, quer a recursos tecnologicamente mais modernos. Constatámos que houve uma utilização variada de recursos e meios de ensino, como meios didáticos, revelando sempre a preocupação com a adequação aos conteúdos a lecionar. As preocupações com a motivação e interesse dos alunos foi patente pela opção constante em todos os estagiários de fazerem uso de forma variada e com critérios didáticos evidentes os vários recursos. A esmagadora maioria dos recursos explorava a dimensão lúdica como estratégia facilitadora das aprendizagens, o que e confirmado pela quantidade de recursos apresentados com a designação de jogos.

Os dispositivos tecnológicos estavam ligados não só aos programas de apresentação de informação (power point e prezi), alguns programas com destaque para o Kahoot, manual digital e os recursos disponibilizados pelas plataformas de ensino, de que se oferece como exemplo mais utilizado a Escola virtual, utilizada por professores e alunos nas escolas portuguesas. Nesta última um dos recursos mais utilizado foram os vídeos aí disponibilizados. Os estagiários revelaram este cuidado em integrar nas suas aulas, para além de recursos por si construídos, recursos disponíveis na rede. O grande critério era, sem dúvida, a relevância para a aprendizagem dos alunos.

 

CONCLUSIONES

Nesta investigação centrada na Prática de Ensino Supervisionada de cinco estagiários na disciplina de Matemática confirmamos a integração constante de meios e recursos de ensino desde o mais tradicional, o manual escolar, até aos dispositivos tecnológicos saídos da revolução cibernética. Da análise dos portefólios elaborados pelos estudantes durante o período em que realizaram a sua prática, foi evidente a presença e utilização de uma variedade de meios e recursos educativos / didáticos por parte de todos os participantes.

Em jeito de conclusão constatámos que todos os participantes planificaram de forma adequada e justificada no estágio da disciplina de Matemática, no 6.º ano do 2.º Ciclo do Ensino Básico As dez aulas de Matemática lecionadas por cada estagiário abordaram os conteúdos previstos no programa oficial do 6.º ano de escolaridade e foram previamente acordados com a professora cooperante. Após a análise dos portefólios e da observação das aulas lecionadas é legítimo   afirmar que a prática letiva dos cinco estagiários comprova uma abordagem adequada aos objetivos para este ciclo de estudos, sendo evidente a integração de uma variedade de recursos de ensino desde os mais tradicionais aos mais avançados em termos de suporte tecnológico.

Todos os participantes concederam relevância aos meios e recursos de ensino mais tradicionais (manual escolar, fichas de trabalho) mas integraram também, na sua prática, as TIC e as plataformas de ensino. Pudemos verificar a utilização consistente do computador, apoiado pelo projetor multimédia, para utilização de software de apresentação (Power point, Prezi), para exibição e exploração de vídeos acedidos a partir da Escola Virtual. A tecnologia informática foi ainda usada para ajudar atividades de pesquisa ou organização de informação, mas também para apoiar os vários momentos da aula. Merece um reparo importante e positivo a utilização de dispositivos de comunicação móvel, como os tablets, para, por exemplo, o desenvolvimento de atividades com o aplicativo Kahoot.

Foi possível confirmar a utilização muito consistente do jogo como estratégia de ensino e ainda como recurso para a aprendizagem de determinados conteúdos matemáticos. Conscientes das dificuldades que os alunos vão gradualmente revelando na aprendizagem da matemática, apesar dos resultados obtidos por Portugal em termos internacionais terem vindo a melhorar, há uma preocupação grande por melhorar os resultados nas provas / exames nacionais. Nos últimos anos têm havido uma aposta muito forte na Didática da Matemática dirigida aos professores desta área, mas com especial incidência nos primeiros anos. Há uma convicção generalizada de que as bases mais sólidas em termos de aprendizagem, permitirão percursos mais consistentes e com maior sucesso. A esmagadora maioria dos recursos identificados são jogos. Em muitos casos os estagiários serviram-se de jogos tradicionais que adaptaram à aprendizagem da matemática. Outros são menos tradicionais, como o kahoot, no entanto, através deste os estagiários conseguiram mobilizar a atenção, o interesse e aumentar a participação, o envolvimento ativo dos alunos em cada momento da construção da aula. De destacar que os participantes passaram a ser atores principais na edificação do conhecimento.

Os resultados de aprendizagem que os alunos, das duas turmas onde decorreram os estágios, obtiveram no final do ano letivo, na disciplina de Matemática, veio confirmar o sucesso das opções realizadas pelos futuros professores no decurso da sua Prática de Ensino Supervisionada. A impressão dos estagiários foi a de que desenvolveram estratégias de ensino que favoreceram a participação dos alunos, e que o recurso diversificado a meios e recursos de ensino, combinando o tradicional e o mais moderno do ponto de vista tecnológico, potenciou a atenção dos alunos em todos os momentos da aula. O envolvimento e entusiasmo destes foi constante, refletindo-se nos resultados académicos conseguidos. Se os alunos com melhores resultados continuaram a obter resultados elevados, os alunos com mais dificuldades, revelaram melhor compreensão dos conteúdos quando confrontados com as opções metodológicas e com os recursos de ensino selecionados, conseguindo resultados melhores.

 

Agradecimentos: Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UID/CED/00194/2019.

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