Trabajo Nº: | RES0055 |
Tipo: | Oral |
Tema: | Experiencias innovadoras en el Prácticum y las prácticas externas |
Autores: |
Marcos Alexandre De Melo Barros UFPE (CENTRO DE EDUCAÇÃO) marcos@marcosbarros.com.br Fredson Murilo Silva UFPE (PPGECM) fredmurilo18@hotmail.com Claudison Vieira Albuquerque Secretaria de Educação de Feira Nova (Secretário de Educação) claudisonalbuquerque@gmail.com María Dalvaneide de Oliveira Araújo Universidade de Coimbra (PCE) dneide@gmail.com Gleize Cristina França Barros Secretaria Municipal da Cidade do Recife (UTEC Santa Terezinha) gleizebarrosf@gmail.com |
Keywords: | Residência Docente, Ensino de Ciências, Formação Docente, Impactos. |
Este ensaio é um recorte da dissertação de mestrado que analisa os impactos do Programa de Extensão Residência Docente em Ensino de Ciências (ReDEC) na construção da profissionalidade docente entre os Licenciandos em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco. A ReDEC é um programa vinculado ao Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino do Centro de Educação da UFPE, em parceria com a Secretaria de Educação de Feira Nova- PE, que fomenta e valoriza o aperfeiçoamento na formação dos docentes para a Educação Básica. O enfoque desse ensaio é investigar a execução do programa na formação docente, bem como examinar como está sendo coordenada a formação inicial dos professores. Buscou-se em descrever a ReDEC e apresentar os dados de execução do programa no período entre 2017 a 2019, de forma a ilustrar os benefícios do Programa. Como fonte de pesquisa foram utilizados os estudos de Carvalho, Tardif, Abrucio e Pimenta. A partir da análise documental do edital ReDEC 01/2018, dos relatórios produzidos pelos residentes (2017/2018), dos projetos anuais do programa e dos projetos cadastrados via Sistema de Informação e Gestão de Projetos SIGProj (2017-2019). os resultados expostos apresentam uma política pública organizada, que aprecia e fortalece a formação de professores, traz desenvolvimento em relação à particularidade nas escolas de ensino público, integrando as escolas e universidade, propiciando melhoria na formação inicial dos licenciandos e formação continuada para os professores das escolas públicas.
A problemática da formação docente é antiga e ao mesmo tempo atual, e as pesquisas mostram a necessidade da continuidade de investigações nessa área, bem como da busca de políticas educacionais e de práticas consistentes para amenizar os problemas contemporâneos. A discussão sobre a formação dos professores vem sendo debatido há décadas em seminários, congressos, cursos e em outros eventos, sendo questionado qual a formação necessária ou ideal para se formar um professor? Essas discussões trazem a preocupação de como está a qualidade da formação inicial dos professores principalmente em relação as limitações na construção da sua profissionalidade.
Pesquisadores (CARVALHO, 2017; PIMENTA, 2012; SCALABRIN; MOLINARI, 2013; KRASILCHIK, 2008; ALMEIDA; PIMENTA, 2014) argumentam que o estágio ainda é um dos fatores mais importantes na formação docente, uma vez que sua finalidade é a aproximar os futuros professores à realidade onde atuarão. Porém, no contexto real Araújo (2016) pontua que os estágios supervisionados não são suficientes para que os professores em formação possam articular a teoria e prática. São vários aspectos que precisam ser levados em consideração desde o currículo das licenciaturas, assim como as disciplinas estão sendo trabalhadas no sentido de articular a teoria com a prática antes mesmo dos estágios.
De acordo com Abrucio (2016) a formação inicial dos professores é precária e insuficiente para dar subsídios que sustentem práticas de ensino mais efetivas. Diante desses dados os professores iniciais deveriam passar por um processo de profissionalização antes de assumir uma sala de aula como docente através de atividades práticas como a Residência Docente.
Pouco ainda se sabe e se discute sobre o modelo de residência docente nas instituições brasileiras de ensino. Este modelo de ensino e aprendizagem em forma de residência vem se tornando cada vez mais forte nas universidades sempre com uma ligação direta com as escolas de educação básica. Poucos artigos nos dão o embasamento da logística de um modelo de formação de professores relativamente novo e que ainda enfrenta a resistência de professores universitários, pesquisadores e até mesmo dos alunos, que defendem os estágios supervisionados como o melhor caminho para que o licenciando se aproprie de fato da rotina e funcionamento de uma instituição de educação básica.
Autores (SILVESTRE; VALENTE, 2014; RICCI, 2015; GOMES, 2015; SILVA, 2015; SANT’ANNA, 2015; ABRUCIO, 2016; ARAÚJO; CURADO SILVA, 2016; LEAL, 2016; ARAÚJO,2016; SILVESTRE, 2016; SILVA; BARROS,2018) identificaram os principais modelos de residência pedagógica instituídos no Brasil desde 2007, assim como os marcos legais que norteiam esse modelo em nosso país, permitindo diminuir o espaço que existe entre a formação inicial e a entrada do professor efetivamente em serviço.
Estes modelos estão sendo desenvolvidos em várias Universidades, Colégios, Secretária de Educação, Ministério da Educação e Institutos como: Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG); Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Colégio Pedro II (CPCII); Colégio Visconde de Porto Seguro (CVPS): Secretaria de Educação de São Paulo; Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Coletivo que promoveram a criação de programas institucionais de Residência Pedagógica com o objetivo de promover a articulação entre a teoria e a prática estimulando a docência, proporcionado a esses professores iniciantes uma imersão para vivenciar as salas de aulas das escolas públicas e privadas antes e após a sua formação assim contribuindo com sua profissionalidade docente (RICCI,2015; UNIFESP,2017; SANT’ ANNA, 2015; FILHO, 2015; BRASIL, 2018).
Dentre vários programas com este objetivo no Brasil, temos o Programa de Extensão Residência Docente em Ensino de Ciências (ReDEC), vinculado ao Departamento de Métodos e Técnica de Ensino do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco como política pública para a formação inicial de professores. A ReDEC contribui na formação docente inicial diminuindo o abismo que há entre academia e a sala de aula e na formação continuada de professores da rede municipal de ensino contribuindo para a melhoria na qualidade da Educação (SILVA; BARROS, 2018).
A partir desse viés esta investigação traz como problematização a importância da prática na formação docente. O enfoque do presente trabalho é relatar a importância do programa de extensão ReDEC na formação docente, bem como investigar como está sendo dirigida a formação inicial dos professores. Buscamos descrever o Programa Residência Docente em Ensino de Ciências e apresentar suas impressões na formação docente inicial. Nesta perspectiva será realizada uma pesquisa bibliográfica e documental a fim de descrever a importância da prática na formação dos professores iniciantes e investigar se a ReDEC pode ser aplicada como uma estratégia pedagógica na formação docente inicial.
A metodologia aplicada nesta pesquisa esta pautada como bibliográfica e documental. Alguns autores que serviram como base foram: Carvalho, Tardifi, Abrúcio e Araújo que em suas pesquisas especificam de como estão a estrutura dos cursos de licenciaturas a prática docente.
Segundo Pizzani et al. (2012) a pesquisa bibliográfica é uma revisão da literatura que norteiam a principal teoria de um trabalho cientifico dando subsídios para o pesquisador fundamentar seu trabalho. A pesquisa documental é realizada em torno de documentos que podem ter tido ou não tratamento analítico como: documentos oficiais, reportagens, fotografias, gravações e relatórios (GIL, 2008). Realizamos uma análise documental para verificar qual o impacto deste programa na formação dos professores.
FORMAÇÂO DOCENTE
Para Abrucio (2016) o que mais se encontra na literatura sobre a formação de professores nas últimas três décadas, são temas que explanam que os docentes não têm tido uma formação inicial apropriada para dar conta do processo de ensino e aprendizagem. Quando analisamos como a prática está inserida nos cursos de licenciatura é evidente a falta da inserção do que se aprendeu na teoria. É importante compreender que o processo da formação docente deve ser construída processualmente, isto é, durante o percurso da sua formação. A partir desse princípio, podemos dizer que essa formação necessita tanto das teorias quanto das práticas.
Quando nos reportamos ao Ensino de Ciências, Carvalho e Gil- Perez (2011) ratificam que a formação dos professores de Ciências é um processo abrangente que nunca se está concluído, sendo carentes de uma formação adequada. Para os autores, a formação dos professores proposto por instituição de curso superior de Ciências e Biologia ainda apresentam grandes lacunas onde os departamentos de Ciências ficam responsável pela parte cientifica do curso, e a parte da docência é responsabilidade do departamento de educação. A ciência é ensinada, basicamente, por transmissão dos conhecimentos científicos já elaborados como receitas de bolo não contribuindo para a prática da docência (CARVALHO; GIL-PEREZ, 2011).
Para Pimenta (2004) o exercício da profissão se dar através da prática, assim como um médico, um dentista necessitam desenvolver habilidades específicas para operar os instrumentos próprios de seu fazer. O professor também. No entanto, a teoria não é suficiente para solucionar os problemas os quais ele enfrentará. Nesta perspectiva o professor precisa dominar tanto a teoria quanto a prática que são tratadas isoladamente, gerando equívocos graves nos processos de formação docente. “A prática pela prática sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática” (PIMENTA, 2004.p.9)
Nesta mesma direção Abrucio (2016) afirma que a falta de sintonia entre a formação superior e a prática nas escolas enfraquece a construção do ofício docente. A prática profissional do docente não é uma simples aplicação de teorias; é, sim, um espaço de produção de saberes e experiências para o seu crescimento profissional e sua autonomia. Além disso, o aprendizado é muito mais eficaz quando é conquistado através da prática, o conhecimento é compreendido com muito mais eficácia. Na efetiva prática de sala de aula é possível compreender vários conceitos que lhe foram ensinados apenas na teoria.
Em sua obra Tardif (2002) afirma que os professores em formação necessitam de alguns saberes para desempenhar sua profissão e esses saberes são essenciais para aplicar em seu cotidiano. É relevante que os professores compreendam alguns conhecimentos específicos, especialmente em relação as disciplinas, currículo e conteúdos, e isso se dá por meio de vivências da prática docente.
A esse respeito Libâneo (2001, p. 192), afirma que “desde o ingresso dos alunos no curso, é preciso integrar os conteúdos das disciplinas em situações da prática que coloquem problemas aos futuros professores e lhes possibilitem experimentar soluções, com a ajuda da teoria”. Pensando em articular a teoria e prática o Ministério da Educação (MEC) lança a Política Nacional de Formação de Professores com a Residência Docente.
RESIDÊNCIA DOCENTE
A resolução nº 2, de 1º de julho de 2015 traz a Residência Docente (RD) como uma das diretrizes curriculares para formação inicial dos cursos de licenciatura. A RD tem sido um tema que tem se destacado no campo educacional de formação inicial e continuada de professores como na área políticas públicas e na mídia. Dessa forma, a RD se destaca como uma possível política pública, que busca favorecer a inserção na profissionalidade do docente e contribuir para um trabalho reflexivo no qual o docente possa vivenciar os momentos de descobertas, o que pode contribuir para melhoria do seu trabalho.
A RD foi inspirada através do programa de residência médica, no qual sabemos da importância do médico após concluir o curso passar dois ou mais anos na prática junto a médicos experientes nos hospitais ou em instituição de saúde (ABRUCIO, 2016). A Residência Docente proporciona ao aluno um tempo integral na aprendizagem de uma realidade escolar sob a orientação de um professor formador e um professor preceptor articulando a teoria e a prática.
Na tentativa de encurtar a distância entre a formação inicial e o cotidiano escolar várias universidades promoveram a criação de programas institucionais de residência docente com o objetivo de promover a articulação entre a teoria e a prática estimulando a docência, proporcionado a esses docentes iniciantes uma imersão para vivenciar as salas de aulas das escolas públicas antes e após a sua formação assim contribuindo com sua profissionalidade docente. Dentre estes, temos o Programa de extensão Residência Docente em Ensino de Ciências (ReDEC) vinculado ao departamento de Métodos e técnicas de Ensino do Centro de Educação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em parceria com a Secretaria de Educação de Feira Nova- Pe.
Feira Nova é uma cidade particularmente nova no cenário pernambucano, com dez escolas públicas municipais e duas públicas estaduais. A secretaria municipal de educação de Feira Nova gerencia 4 escolas com os Anos Finais de Ensino Fundamental, sendo duas delas com os Anos Iniciais do Ensino Fundamental também, uma creche e 6 escolas exclusivamente com os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, além de turmas de EJA em algumas escolas no turno da noite.
ORIGEM E CONSTITUIÇÃO DA REDEC
O programa de extensão Residência Docente em Ensino de Ciências (ReDEC) foi implementado conforme o edital 2017 de fluxo continuo através da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura – PROExC por meio do Sistema de Informação e Gestão de Projetos (SIGProj). De acordo com o relatório da coordenação 2017-2018. A idéia de lançar a ReDEC partiu da iniciativa do professor Dr. Marcos Alexandre de melo Barros com seu orientando de mestrado Fredson Murilo da Silva, no qual se inspiraram no programa de Residência Médica para os alunos vivenciar o ambiente escolar ainda no período da graduação.
Conforme Silva e Barros (2018) o programa teve como objetivo inicial promover a formação continuada de professores que atuam na rede municipal de ensino de Feira Nova, contribuindo com a interação pedagógica, aprofundamento teórico e práticas inovadoras para a promoção de um ensino público e como um curso preparatório para atender licenciandos dos estágios em ensino de Biologia integrando a teoria e a prática, rompendo com a barreira entre a universidade e as escolas públicas.
De acordo com os relatórios dos Residentes – 2017 o programa é voltado para atuação da prática na área de Ciências nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Dezoito residentes foram imergidos em quatro escolas por uma semana (40 horas) em tempo ininterrupto. Durante esse período de imersão os residentes desenvolvem atividades que consistem em: imersão na secretária de educação do município atuando com o secretário e diretora de ensino; gestão e observação compartilhada onde os residentes atuam junto com professores e gestores; regências nas aulas de ciências mentorados pelo coordenador da ReDEC e pelo preceptor da escola campo, desenvolvendo atividades do cotidiano escolar relacionando a prática com a teoria estudada na universidade.
Em uma pesquisa realizada por Araújo et al (2018) com os licenciandos do quarto estágio em Ciências Biológicas da UFPE buscando identificar de como eles se percebem enquanto professor para assumir uma sala de aula, 72% desses licenciandos não se sentem plenamente preparados para os desafios de sala de aula. Na visão dos coordenadores a ReDEC foi desenhada (imagem 1) como uma ação para o conhecimento da prática docente, no qual o residente é o centro da ação. O principal objetivo da ReDEC é preparar os licenciandos para assumirem suas salas de aulas, por meio da socialização do saber entre discentes e docentes da Educação Básica, coordenação da ReDEC e professor da Instituição de Ensino Superior.
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Imagem 1. Desenho do Programa ReDEC
Fonte: os autores (2019)
Esta parceria inovadora entre a ReDEC e a Secretaria de Educação de Feira Nova, contribuiu com a formação inicial e continuada de professores. Ao viver essas experiências o programa participou da seleção promovida pela Escola de Inovação e Políticas Públicas- FUNDAJ, entre os quase setenta projetos escritos, foi premiado como o programa mais inovador em Políticas Públicas de Pernambuco, sendo o pioneiro em Ensino de Ciências e 100.000,00 reais para investir no programa (SILVA; BARROS, 2018).
De acordo com o projeto da coordenação (2018) o fortalecimento do programa buscou- se a continuidade ao programa dentro das Políticas Educacionais. O primeiro edital foi constituído em 2018 para seleção de 12 residentes bolsistas para integrar o novo formato do programa e seus subprojetos que uniu a formação em serviço, o uso de metodologias ativas em sala e um sistema holístico de profissionalização mais complexo e mais rico para os licenciandos, que estão em processo de formação profissional. Esse tripé é construído através da imersão total da equipe no chão da escola, permitindo um maior conhecimento e entendimento de toda a comunidade escolar.
O programa se baseou teoricamente nas coreografias didáticas, desenvolvidas por Zabalza (2015). O autor destaca a importância de oferecer, através da prática em sala, condições que permitam aos professores acompanhar as transformações na estrutura escolar de forma criativa e inovadora. As coreografias se colocam como uma possibilidade que os docentes têm de estruturar o cenário de aprendizagem, buscando proporcionar construções cada vez mais significativas para os estudantes.
Conforme os Relatórios dos residentes (2018), o programa passou a integrar um grupo licenciandos voluntários matriculados nas disciplinas de estágios supervisionado por um período de 80 horas por semestre atuando na área de Ciências nos Anos Finais do Ensino Fundamental, enquanto o grupo dos bolsistas (10 licenciados de Ciências biológicas e 2 de Ciências Sociais) passaram 440 horas anuais atuando nas dez escolas do município de Feira Nova de forma interdisciplinar, onde foi criado a metodologia Vivências Formativas, que se constituem na finalidade de promover formações em serviço para professores e formações para os alunos da escola campo, ao mesmo tempo em que forma os residentes. Além das vivências em escolas públicas os residentes foram imersos no Colégio Souza Leão – Candeias, uma rede particular de ensino para compreender a prática docente em dois contextos diferentes.
Os Estudos de Silvestre e Valente (2014) vão de encontro aos princípios da ReDEC, pelo potencial da imersão em tempo contínuo e ininterrupto, onde os licenciandos tem a oportunidade de conhecer com mais profundidade o contexto em que ocorre à docência, identificando e reconhecendo os aspectos da cultura escolar; acompanhando e analisando os processos de aprendizagem pelos quais passam os alunos, e levantando características da organização do trabalho pedagógicos do professor preceptor e da escola (SILVESTRE; VALENTE, 2014).
OS IMPACTOS DA ReDEC NA FORMAÇÂO DOS PROFESSORES
A coordenação acompanha o desenvolvimento do programa realizando visitas técnicas a secretaria de educação, as escolas campo participantes do programa, e por meio de entrevistas, questionários, grupo focais, levantamentos de dados com os residentes e professores e por meio das avaliações externa relacionada ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e dos relatórios da coordenação enviado ao SIGProj.
De acordo o espelho do programa (Quadro 1) organizado através dos relatórios dos residentes e projetos anuais 2017-2019, houve um impacto significativo na estrutura e na metodologia do programa que vem inovando a cada ano elevando a qualificação na prática docente. Houve um crescimento significativo na quantidade de residentes atendido pelo programa, nas bolsas e nos projetos desenvolvidos. Segundo os coordenadores a cada ano a procura pela formação na residência tem aumentado não só por alunos da UFPE, como também de outras instituições públicas e privadas.
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Imagem 2. Espelho do Programa
Fonte: Os Autores (2019)
Outro fator de impacto foi em relação as provas externas (IDEB) de 2017, pela primeira vez na série histórica desta avaliação, o município de Feira Nova após aderir a cultura de formação continuada por meio da ReDEC ultrapassou a casa dos 5,0 pontos para os Anos Iniciais e a dos 4,0 pontos para os Anos Finais (Imagem 2). Já foram alcançadas em 2017, as metas estabelecidas para 2021 (Anos Iniciais) e 2019 (Anos Finais). Este resultado elevou o município a frente de grandes municípios do Estado, incluindo a Capital e Região Metropolitana.
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Imagem 3- IDEB 2017 -Feira Nova -PE
Fonte: Secretaria de Educação de Feira Nova (2017)
Na visão dos gestores escolar houve um impacto significativo a nível municipal nos ambientes escolares, pelo fato da ReDEC elevar a qualificação da formação dos professores por ser uma política pública pertinente para formação continuada do município de Feira Nova e para formação inicial nos cursos de licenciatura.
Os relatórios dos residentes e grupo focal (2017-2018), tem revelado o impacto que a ReDEC causou na profissionalidade dos residentes. Muitos dos licenciandos que entraram no programa com medo de assumir uma sala de aula, não sabendo preparar um plano de atividade, ou compreender o cotidiano escolar, são egressos da ReDEC com uma nova visão sobre a docência. Alguns desses egressos começaram a atuar em escola pública e privada ainda no processo de aprendizado, pois já estavam familiarizados com o ambiente escolar o que facilitou muito sua interação no espaço refletindo na sua prática docente.
Os residentes enfatizam a diferença que há entre a residência e os estágios supervisionados no qual o conhecimento é reduzido, onde as orientações para a prática docente são poucas ou inexistente se limitando a observação ou setores mais administrativos. O programa ReDEC possibilita o elo entre a teoria à prática. Este espaço promovido pelo programa se relaciona com o que Sant’Anna et al. (2015) define como terceiro espaço, uns lócus de construção de conhecimento para o discente, onde o período de imersão oportunize vivências, e práticas de experimentação, de observação-participativa, novos olhares sobre as atividades de ensinar e aprender e uma construção de saberes docentes, através de exposição a novas teorias e novas práticas.
A participação dos residentes no ambiente escolar tem impactado os professores pelas novas metodologias que eles aprendem na universidade e utilizam nas suas regências. Essas metodologias têm potencializado a utilização de vários espaços da escola como: sala multimídia, biblioteca, espaço esportivo ou externo a escola, provocando os docentes a utilizarem esses mesmos espaços para aulas diversificadas. Foi perceptível pelos relatórios dos residentes (2017-2018), que este impacto gerou desconforto nos professores que estão a mais de 15 anos em sala de aula trabalhando de forma tradicional.
A ReDEC é o princípio para boa qualificação profissional. Metodologicamente falando ela como estratégia pedagógica relaciona a teoria e a prática enriquecendo o currículo e tornando a formação docente inicial mais sólida. Além de promover a aproximação do residente com o ambiente escolar incentivando inovação, pesquisa, comunicação e escrita dos licenciandos.
A formação docente, concebida como prática pedagógica, alicerçada em ações e projetos construídos no contexto das necessidades do licenciando e das escolas públicas, tem na ReDEC a oportunidade de aproximar a escola pública da universidade a partir da participação ativa dos diferentes segmentos: alunos/licenciados/preceptor/e professor formador.
Perante o cenário educacional atual, a forma como a prática pedagógica está sendo administrada na formação docente inicial se torna insuficiente e fragmentada. Tardif (2002) especifica que a docência é uma técnica que se desenvolve permanentemente, unindo a prática com o da reflexão teorizada. Para Carvalho (2011) várias atitudes na formação do professor em relação entre a teoria e a prática, entre o “saber” e o “saber fazer” devem ser direcionadas, assim o professor não só terá condições de analisar criticamente o ensino tradicional, mas também de obter experiências para conduzir atividades inovadoras.
Um dos temas centrais que tem se destacado na literatura é reforçar o oficio do professor da sua formação até a sua prática. Essa integração corre por meio do que se aprende no ensino superior e o que se efetiva nas escolas. Para Abrucio (2016, p.26) a “atuação prática desde o momento formativo aparece em muitos estudos como essencial para criar melhores docentes, além de tornar a formação um processo contínuo ao longo da carreira. ”
O Programa Residência Docente em Ensino de Ciências tem como princípios pedagógicos uma formação moderada nos saberes prévios da docência, nos conhecimentos teórico-práticos e nos saberes da pesquisa acadêmica, articulando a formação docente, universidade e escola, docentes e discentes. A ReDEC apresenta semelhanças com o Programa de Residência Pedagógica do curso de pedagogia da Universidade de São Paulo, onde os licenciandos realizam a residência no período da graduação. Além do processo de articulação entre a formação inicial e continuada o programa oferece ações de formações para os gestores e docentes das escolas participantes de acordo com as possibilidades da universidade e as necessidades apresentadas pelo corpo escolar (UNIFESP, 2017).
A ReDEC tem contribuído para o campo universitário como para a comunidade escolar Feiranovense. Os residentes têm despertado nos seus professores preceptores a vontade da utilização de novas metodologias em sala de aula, além de estimula-los a utilizar muitos espaços esquecidos na escola como: sala multimídia, biblioteca, espaços esportivos e áreas externas da escola. O programa por meio das suas ações, projetos e resultados influenciou os resultados do IDEB nas escolas participantes do programa, elevando o município a bater as metas para 2019 e 2021.
O programa permite que o residente vivencie na prática os problemas emergentes do cotidiano escolar, não sendo o mero observador, mas um protagonista atuante na prática e na sua formação. Desta forma a ReDEC é extremamente importante na formação docente inicial, despertando o interesse do licenciado para sua formação como docente, integrando a universidade e as escolas de ensino público e privado, propiciando uma formação continuada para os professores da universidade e da rede municipal de ensino, além de trazer melhorias em relação à qualidade do ensino nas escolas de rede pública. A ReDEC possui três vieses: ensino, pesquisa e extensão possibilitando pesquisas voltadas para a educação e a formação de professores permitindo refletir sobre o currículo dos cursos de licenciaturas proporcionando melhorias na qualidade do ensino.
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