O Sistema Dual no Ensino Superior: Perspetivas e Avaliação dos Benefícios na sua Implementação
Trabajo Nº:RES0048
Tipo:Oral
Tema:Datos existentes sobre la eficacia formativa del Prácticum y las prácticas externas
Autores: Filipe Gonçalves Sousa Macedo
Universidade Fernando Pessoa (Professor Convidado)
fmacedo@ufp.edu.pt


Rui Leandro Maia
Universidade Fernando Pessoa (Environment and Health Research Unit)
rlmaia@ufp.edu.pt

Paula Alexandre Magalhães
SCM de Matosinhos (Professora)
paulamagalhaes.psi@gmail.com
Keywords:Sistema Dual, Ensino Superior, Avaliação, Benefícios.
INTRODUCCIÓN

O Sistema Dual combina a qualificação teórica com a prática em contexto de trabalho, “learning by doing”, remetendo para vias de aprendizagem e de partilha de saberes e de responsabilidades.

Não estando institucionalizado no ensino superior, pode este sistema ter aplicação com benefícios mútuos que, no concreto, se traduzam em associação organizada e estratégica entre “saberes” testáveis e aplicáveis a contextos reais. 

As exigências de conhecimentos que a Revolução Industrial trouxe estiveram na base da renovação de formas de aprendizagem.

O século XIX surge, um pouco por toda a Europa, como o momento em que a educação para o trabalho começa a ser repensada, fazendo emergir os três principais modelos que, ainda hoje e salvo todas as diferenças, vigoram: o mercado liberal britânico, o regulamentado pelo Estado francês, o dual empresarial alemão (Pereira, 2012).

A importância da Educação para o desenvolvimento das sociedades é incontornável.

Investir nos recursos humanos torna-se necessário para um crescimento sustentável, orientando-se os jovens para a educação e formação ao longo da vida.

A educação ideal, capaz de responder aos desafios das sociedades contemporâneas, é tida como um percurso ao longo da vida que, cartografado, é indicativo, como uma bússola, das opções dos indivíduos para o alcance da autonomia no aprender a conhecer, no aprender a fazer, no aprender a viver em comum e no aprender a ser.

A educação é primordial na compreensão e no domínio de formas de interagir num mundo que, em constante progresso, impõe, mais do que introdução de novas disciplinas, reorganização das aprendizagens e promoção da formação ao longo da vida (Delors, 1996).

Pressupõe, ainda, a orientação estratégica, que, existindo embora em ideia, falta cumprir plenamente pela universidade, quanto ao desempenho de funções essenciais de:

 

“Preparação para a pesquisa e para o ensino.

Oferta de uma formação, em diferentes áreas, bastante especializada e adaptada às necessidades da vida económica e social.

Abertura a todos para responder aos múltiplos aspetos do que se designa por educação permanente, em sentido lato.” (Delors 1996: 34).

 

A qualidade é a fronteira distintiva das organizações e o conhecimento, teórico e prático, o processo de aquisição que a sustenta, existindo, por isso, uma relação esperada entre o que se aprende e o que se faz.

É esse o desígnio que, nas sociedades industriais e pós-industriais, assumem as profissões, ou seja, atividades que incorporam conhecimentos especializados e que, por isso mesmo, se distinguem das ocupações cujas práticas, para acontecerem, não dependem senão da vontade intrínseca dos seres humanos.

As instituições de ensino superior e as empresas são os agentes deste processo, embora funcionando de forma estanque, isto é, cada qual em tempos e em espaços separados, sem, entre eles, assumirem compromissos, partilhas, percursos que, em proveito mútuo, se possam capitalizar a favor do progresso que se alicerça em conhecimento (Toffler 1992, 1984). 

Nas décadas de sessenta e setenta do século passado, particularmente por referência a Portugal, a aquisição de uma licenciatura significava a contratualização estável e duradoura para o mundo do trabalho.

Esta realidade, com a ampliação das funções do Estado na educação, na saúde e na segurança social, entre as décadas de oitenta e de noventa, deu lugar ao exercício precário e eventual de profissões, particularmente na área das ciências sociais e humanas, que, do ponto de vista da empregabilidade, assume, de facto, dimensão negativamente pioneira.

Acresce que, num futuro já iniciado, os robots poderão eliminar milhões de empregos nas maiores economias: prevê-se que quatro a seis em cada dez trabalhadores, na Europa, venham a ser substituídos nos próximos vinte anos com a implementação de processos de automatização da produção e da prestação de serviços.

Por sua vez, paradoxalmente, nos países do G20, dois em cada cinco empregadores afirmam ter falta de trabalhadores qualificados. Poderá haver, na Europa, por volta de 2020, cerca de oitocentos e vinte e cinco mil postos de trabalho disponíveis.

A evolução da automação significa que cada pessoa poderá ter, ao longo da vida, entre quinze e vinte trabalhos diferentes.

No Fórum Económico de Bruxelas, foram recentemente colocadas as seguintes questões:

- Será que a robotização é melhor para as pessoas?

- Será que vamos assistir à estagnação ou à diminuição dos salários como aconteceu na Alemanha com a robotização?

As transformações com que o Mundo se depara convocam os decisores políticos e os agentes económicos e sociais a pensarem novos modelos que respondam eficazmente a desafios de produção que, incontornavelmente, terão que considerar a robotização, o envelhecimento demográfico, o Estado Social, a otimização de recursos num quadro em que é imperativo o cumprimento do chamados ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 (United Nations, 2015).

A ideia de aproximação entre o ensino superior e o mundo do trabalho tem sido, progressivamente, trabalhada na União Europeia no sentido de se conseguir um maior estreitamento dos campos de ação, pela criação de “pontes” entre quem tem a responsabilidade e gerar inovação e conhecimento e quem tem a responsabilidade de aplicar conhecimento e criar valor. 

A reestruturação dos cursos de licenciatura e de mestrado foram no sentido de, por uniformização e por redefinição de processos, se obter melhores respostas para as exigências do mercado de trabalho europeu pela introdução de dois instrumentos:

- A Declaração de Bolonha, em 1999, que instituiu o Espaço Europeu de Educação Superior.

- O estabelecimento, em 2004, de um sistema de créditos, European Credit Transfer System, ECTS.

O Sistema de Aprendizagem Dual está, com comprovados benefícios, testado ao nível do ensino pré-universitário, que, resgatou o modelo das escolas profissionais existente em Portugal antes da Revolução de 25 de abril de 1974.

Na Finlândia um dos princípios básicos da educação é o de que todos os indivíduos devem ter acesso igualitário a uma educação e capacitação de alta qualidade.

O ensino superior finlandês, com uma estrutura dual, é repartido por universidades e escolas superiores profissionais, tendo cada uma delas o seu próprio perfil. Nas universidades são acentuadas a investigação científica e a educação e as escolas superiores profissionais, também chamadas universidades de ciências aplicadas, tem um enfoque mais prático, com ligação ao mundo empresarial. (MEC, 1997).

É reconhecida a importância dos sistemas educativos como fatores chave que determinam o resultado do acesso dos jovens ao emprego, oferecendo habilidades necessárias para se desenvolverem no mundo do trabalho e, por isso, a facilitação na transição da escola para o meio laboral.

Em Portugal, não está implementado o sistema de aprendizagem dual no ensino superior.

O ensino superior em Portugal, público ou privado, está organizado num modelo binário, ou seja, o ensino superior universitário e o ensino superior politécnico.

Segundo a OIT – Organização Internacional do Trabalho, um dos pontos a operacionalizar até 2020 será criar uma estratégia global para o emprego dos jovens (Oliveira e Navega, 2017).

O Parlamento Europeu produziu orientações no sentido de os Estados consagrarem a aprendizagem ao longo da vida como necessidade de se reforçarem sinergias entre o ensino e o emprego, como forma de se facilitar o acesso ao mercado de trabalho (AA.VV, 2014).

A aprendizagem ocorre, de facto, quando existe uma situação com um problema real para resolver. Os conhecimentos teóricos e a experiência são a base para, em conjunto, a resolução dos problemas.

A fase mais relevante neste processo é a reelaboração intelectual, caraterizada pela formulação de novas ideias, cuja riqueza é diretamente proporcional aos conhecimentos, às vivências e às experiências das pessoas. (Dewey, 1979).

O facto de os jovens poderem ter um contacto com a realidade profissional, permite-lhes aprender e compreender conhecimentos que apenas são possíveis em contexto empresarial. (Casimiro, 2018).

A questão de fundo que aqui se discute é a de se saber, face ao sucesso do ensino dual ao nível secundário, se existirão reservas de implementação no ensino superior?

Trata-se de uma visão que, embora importante, fica aquém de uma discussão aprofundada do problema. E isto porque construir uma visão crítica sobre a existência de eventuais associações entre educação superior e desempenhos no mundo do trabalho remete-nos para n fatores aqui não considerados, mas que, na testagem de um modelo de homeostasia, deverão ser avaliados, havendo que relevar, nomeadamente, os seguintes: anos de escolaridade frequentados; nível educacional atingido, pois é muito diferente estar no mercado de trabalho com ou sem formação de nível superior; tipo de formação obtida, na medida em que o que se faz no mercado de trabalho pode ter mais ou menos associação com a formação superior alcançada; sistema educativo, sendo de considerar, nomeadamente, a legislação que o regulamenta, a forma como, pelo quadro normativo vigente, a formação se processa e as condições de que dispõe; investimentos em educação, promotores de percursos mais ou menos dotados de recursos materiais e humanos, justamente fatores de diferenciação pela qualidade; faixa etária em que os indivíduos fazem a formação e se apresentam no mercado de trabalho; background educacional dos pais, enquanto fator altamente potenciador do ser e do estar dos indivíduos ao longo de todo o processo formativo com impacto na forma como eles se apresentarão no mercado de trabalho; tipo de currículo frequentado, se, por exemplo, marcado por experiência de alteridade no país e no estrageiro, se enriquecido por processos de formação em cotexto de trabalho; setor de atividade em que, no mercado de trabalho, operam os indivíduos, ou seja, mais ou menos próximos dos conhecimentos académicos adquiridos. (Ionescu, A. M. e Cuza, A. I. 2012: 130-133).

METODOLOGÍA

Através de um inquérito alocado na ferramenta “Google Docs”, ministrado a uma amostra de conveniência, com o total de 325 respostas obtidas entre os dias 18 de março e 5 de maio de 2019, avalia-se o que sabem e o que pensam as pessoas que frequentam, ou que frequentaram, o ensino superior, ou que, independentemente dos estudos obtidos, têm responsabilidades de gestão, intermédia ou de topo, em empresas ou organizações, sobre a viabilidade e o interesse da implantação do Sistema Dual na formação superior.

O problema exposto decorre de se pretender saber da predisposição dos respondentes para a adoção do modelo de ensino superior dual e da eventual derivação de posições em função de variáveis como a idade, a situação ocupacional, a escolaridade ou, nos casos em que tal se verifica, a profissão exercida. 

A análise dos resultados foi feita com recurso ao software IBM® SPSS® Statistics vs. 25.0, através da representação, em cada variável, dos valores relativos e absolutos e pela realização do teste de associação adequado, ou seja, o Qui-Quadrado com o utilização do V. Cramer para mediação da eventual intensidade, nos casos em que em que o valor de significância foi inferior a 0,05.

O teste de Qui-Quadrado promove, através de cruzamento de categorias de variáveis nominais, a observação de eventual associação na distribuição de posições e, por isso, a sua não aleatoriedade. Quem tem, nas variáveis que aqui se associam, determinados atributos sociodemográficos, como a idade, a ocupação, o grau de escolaridade ou a profissão apresenta diferente predisposição para a aceitação e a defesa de um modelo de ensino superior de partilha entre a academia e o desempenho em contexto real num processo de crescimento partilhado? (Pestana e Gageiro, 2014).

Trata-se de um modelo de análise simples que não deixa, no entanto, de evidenciar padrões, tendências e que, por isso, permite aferir, discutir e obter resultados passíveis de conduzirem a um conhecimento sustentado do problema inicialmente levantado. 

As questões centrais sobre as quais se avaliou da predisposição dos respondentes para a aceitação e defesa da implementação do Sistema Dual no Ensino Superior foram as seguintes, que, adiante, a figura 1 apresenta:

As aprendizagens são mais conseguidas quando se combinam as duas dimensões: teórica e prática em contexto. O peso da formação prática deve ser superior ao peso de formação teórica. Os conhecimentos adquiridos em sala de aula são cimentados e testados na prática ao longo da qualificação. O Sistema Dual pode contribuir para melhorar o emprego dos jovens. O Sistema Dual pode tornar mais harmoniosa a transição entre a formação superior e o mundo do trabalho. O Sistema Dual garantirá aos alunos do ensino superior a aquisição de boas experiências e a aquisição das competências exigidas pelo mercado de trabalho. O Sistema Dual é benéfico para a competitividade das empresas e organizações. A participação dos empregadores em programas de aprendizagem, aumentará quando estes corresponderem às suas necessidades e quando houver boas ligações com as instituições de ensino superior. O Sistema Dual permite a participação dos empregadores nos processos formativos com aquisição de vantagens decorrentes de uma boa relação custo-eficácia. O Sistema Dual introduz uma abordagem capaz de melhorar as bases do emprego e do crescimento, com vista ao desenvolvimento de competências e qualificações profissionais de elevada qualidade e adaptadas ao mercado de trabalho e ao bom funcionamento dos mercados de trabalho. A implantação do Sistema Dual implica a fixação de uma série de direitos e de obrigações para todas as partes envolvidas As empresas e organizações devem encarar o Sistema Dual como um investimento em recursos humanos qualificados para o futuro e assumir a responsabilidade de conformar quadros técnicos de dimensão intermédia e superior. Tem de haver condições para que as empresas e organizações possam apropriar-se do Sistema Dual, incluindo a participação na conceção dos currículos. Os empregadores poderão recear que os custos de formar no Sistema Dual possam ser superiores aos benefícios. O contributo produtivo que o Sistema Dual pode trazer às empresas e organizações excede os custos de formação, incluindo o salário. Os resultados da implementação do Sistema Dual, em termos de custos-benefícios, podem variar entre os diferentes setores e os diferentes sistemas produtivos. É necessário que os sistemas de formação nacionais sejam avaliados continuamente e, se for o caso, adaptados de forma a garantir que contribuam para a competitividade das empresas portuguesas. Os parceiros sociais têm de estar envolvidos na conceção de disposições nacionais aplicáveis ao Sistema Dual e, através de práticas adequadas de negociação coletiva, podem também ajudar a garantir a qualidade da formação e de outros regimes de aprendizagem. Os sindicatos e representantes sindicais podem também desempenhar um papel de maior relevo na formação e no bem-estar dos jovens dentro das empresas.

RESULTADOS

Só 29,2 por cento conhece o Sistema Dual de Educação e apenas 18,6 por cento sabe os países em que funciona. Esta questão remete para uma realidade que, acredita-se, não se restringe ao ensino profissional. 

Tem que ver com uma condição de insuficiente conhecimento do que representa, lato senso, a Instituição Escola, muito falada, pouco vivia, de algum distanciamento funcional decorrente, em parte, de reconfigurações sociais quanto aos papéis que lhe cabe, nas várias etapas de vida dos estudantes, desempenhar. 

Que Escola temos? E que percurso fazemos na Escola? Uma Escola que forma ou uma Escola que educa? Temos, com ampliação para o ensino superior, uma Escola que educa e que forma pelo elementar. 

O quadro 1 descreve as características sociodemográficas, que, no essencial, identificam os respondentes. Três grupos de idades, com representação equilibrada e que, de certa forma, representam estádios ocupacionais diferentes: o primeiro mais centrado nos que ainda estão em idade de estudar, o segundo mais centrado nos que iniciam e ganham alguma experiência pelos desempenhos profissionais e o terceiro claramente assinalando os que têm essa experiência e que, por isso, fizeram percurso e viram outros iniciar percursos equivalentes aos seus. Apresenta-se, em associação, três condições ocupacionais: os que estudam, os que estudam e trabalham e os que trabalham, com dicotomizarão quanto aos percursos escolares, entre os pré-universitários e os detentores de formação superior. Uns e outros poderão, por diferentes sensibilidades, ter visões distintas da pertinência ou não da implantação do ensino dual. E, finalmente, a agregação das ocupações e profissões segundo grandes grupos profissionais a partir da nomenclatura oficial, ou seja, a Classificação Nacional das Profissões 

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As respostas obtidas revelam uma grande aceitação pela implementação do ensino dual de nível superior, remetendo para uma reflexão que, isoladamente, há muito tem sido feita, sem que, no entanto, o País a consiga implementar, ou seja, a de que importa dirimir o fosso entre a teoria e a prática.

Doze das dezanove questões apresentam opção pela categoria “concordo” em mais de 90 por cento; três questões estão entre os 80,0 e os 89,9 por cento; uma questão entre os 70,0 e os 79,9 por cento; e 3 questões entre os 60,0 e os 69,9 por cento.

A Figura 1, em termos gerais, deixa perceber que existe um alto grau de concordância pela implementação do sistema dual no ensino superior e, em oposição, são baixos os graus de indiferença e de discordância. 

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Das restantes categorias de respostas, com representações muito abaixo da categoria “concordo”, de expressão sempre acima dos 60,0 por cento, prevalece a “discordo” sobre a “indiferente”.

A categoria “discordo” assume alguma expressão relativa nas questões 2, 14, 15, 16 e 19, ou seja, as que estão mais associadas aos efeitos que o saber académico pode ter nos desempenhos profissionais, ao papel que aos sindicatos pode caber desempenhar neste processo, as que estão mais associadas com o processo produtivo, com o papel que às empresas cabe desempenar, no que toca ao tempo de formação prática e aos inerentes custos para os empregadores. 

Das dezanove questões sobre o que sabem, o que pensam e o que, eventualmente, pretendem os respondentes do Sistema Dual de Ensino Superior, apenas uma minoria, com oscilação entre os 5,3 por cento e os 21,1 por cento de representação’, apresenta associação estatisticamente significativa com as variáveis que, neste âmbito, se consideraram enquanto possíveis influenciadoras na distribuição de posições pelas opções de resposta, sem que, no entanto, a intensidade dessas associações seja, em qualquer caso, relevante: é menor em relação à idade, à escolaridade, à situação ocupacional e ligeiramente maior em relação às profissões.

A idade parece estar associada à questão de se considerar que o Sistema Dual é benéfico para a competitividade das empresas e organizações (p = ,037; V. Cramer = ,139). Essa consciência aumenta, de forma gradual, entre os grupos considerados: 19-29 anos, 30-49 anos e 50 e mais anos, sendo, em qualquer categoria, claramente dominante o número dos que “concordam” face aos que se manifestam “indiferentes” ou “discordam” Pela situação ocupacional, verifica-se a associação estatisticamente significativa com a questão “O peso da formação prática deve ser superior ao peso de formação teórica” (p = ,009; V. Cramer = ,167), com os que apenas estudam a demonstrarem posição concordante mais expressiva do que os restantes, ou seja, os que apenas trabalham ou os que trabalham e estudam; e com a questão referente aos “conhecimentos adquiridos em sala de aula são cimentados e testados na prática ao longo da qualificação” (p = ,030; V. Cramer = ,152), com os que apenas trabalham a apresentarem posição concordante superior aos que trabalham e estudam e, sobretudo, aos que só estudam. Nas questões em que se evidenciam associações estatisticamente significativas com os graus de escolaridade, a evolução é linear, ou seja, a maior formação corresponde maior concordância. São os “pós-graduados”, por comparação aos “licenciados” e aos “pré-universitários”, que mais concordam que “o Sistema Dual garantirá aos alunos do ensino superior a aquisição de boas experiências e a aquisição das competências exigidas pelo mercado de trabalho” (p = ,044; V. Cramer = ,130); que mais concordam que “a participação dos empregadores em programas de aprendizagem, aumentará quando estes corresponderem às suas necessidades e quando houver boas ligações com as instituições de ensino superior” (p = ,036, V. Cramer = ,134), posição que, adiante, é reiterada em relação às profissões, com maior evidência na concordância para os detentores de cargos dirigentes e de profissionais intelectuais (p = ,047; V. Cramer = ,173); que mais concordam que “as empresas e organizações devem encarar o Sistema Dual como um investimento em recursos humanos qualificados para o futuro e assumir a responsabilidade de, em conjunto, formarem quadros técnicos de dimensão intermédia e superior” (p = ,007, V. Cramer = ,159); e que mais concordam que “tem de haver condições para que as empresas e organizações possam apropriar-se do Sistema Dual, incluindo a participação na conceção dos currículos” (p = ,029, V. Cramer = ,138). Pelas profissões, organizadas em grandes categorias, há também associação estaticamente significativa, com distribuição padronizada de valores, isto é, de menor concordância relativa dos “trabalhadores da indústria e dos serviços” face aos “dirigentes e profissões intelectuais”, aos “profissões técnicas e administrativas” e aos “estudantes em relação ao princípio de que as “aprendizagens são mais conseguidas quando se combinam as duas dimensões: teórica e prática em contexto” (p = ,001, V. Cramer = ,225), ao principio de que “o Sistema Dual pode tornar mais harmoniosa a transição entre a formação superior e o mundo do trabalho” (p = ,008, V. Cramer = ,202) e ao princípio de que “a participação dos empregadores em programas de aprendizagem, aumentará quando estes corresponderem às suas necessidades e quando houver boas ligações com as instituições de ensino superior” (p = ,047; V. Cramer 0 ,173).

 

 

 

CONCLUSIONES

As respostas obtidas revelam uma grande aceitação pela implementação do ensino dual de nível superior, remetendo para uma reflexão que, isoladamente, há muito tem sido feita, sem que, no entanto, o País a consiga implementar, ou seja, a de que importa dirimir o fosso entre a teoria e a prática, porque, percebe-se, o que se quer pela escola não tem correspondido ao que se quer pelo trabalho.

O sentimento de aceitação ocorre independentemente de as pessoas conhecerem o Sistema Dual de Ensino, uma vez que, nesta questão, menos de um terço dos respondentes o assumiu.

Apesar de se verificarem associações estatisticamente significativas entre as variáveis consideradas e a predisposição para se assumirem as virtudes do Sistema Dual no Ensino Superior, parece tratar-se de um querer sem particular destaque de perfis sociodemográficos, dado que, quando os mesmos se verificam, a sua intensidade é modesta.    

Os benefícios na implementação, no ensino superior, do Sistema Dual são particularmente importantes, dada a conjuntura da União Europeia, de economia de ponta, que cada vez mais exige a qualificação para o exercício de funções que, quase sempre, são profissões, segundo o paradigma da mutualidade de aprender para fazer e de aprender fazendo.

É de considerar que existe um sistema testado, de anos, no ensino pré-universitário, capaz de funcionar muito bem, como defendemos, para as formações de nível superior, na transferência do percurso de aprendizagem em contexto teórico prático para o contexto real, ou seja, no exercício de funções equivalentes a aprendizagens, ainda que em simulação das profissões. Trata-se de um tempo de simulação, de um estágio, passível de quantificação, nos primeiros e nos segundos ciclos de estudos, em cerca de um terço da creditação, com intervenção, de facto, de representantes dos saberes complementares implicados no processo de ensino e aprendizagem. A saber:

Um presidente, um arguente externo, dois vogais, um da entidade de ensino superior e outro da entidade de acolhimento, com capacidade de atribuição de classificação capaz de, por ponderação, sobrelevar os conhecimentos aplicados no exercício profissional nos termos seguintes: Classificação final = (Presidente * 0,10) + (Arguente * 0,50) + (Orientador da Instituição de ensino superior * 0,10) + (Orientador da empresa * 0,30).

Considera-se de extrema importância que o Estado Português promova uma revisão do paradigma educacional capaz de, por adoção do desiderato aqui discutido, poder aferir da existência ou do distanciamento em relação ao que se espera de boas práticas e de desempenho adequado às exigências do mercado de trabalho.   

Atendendo a mudanças rápidas, nomeadamente o aumento da emigração, a dinâmica das exportações e a mobilidade empresarial, em contexto de economia global, marcada por avanços tecnológicos constantes, pensa-se que as práticas ligadas à educação / formação de jovens deveriam ser alvo de uma atualização, evidente e eficiente, trabalhada em duas frentes:

- Uma relativamente à educação / formação para o trabalho especializado, pela implementação dos Sistema Dual no Ensino Superior. 

- Outra no apoio e no envolvimento das empresas na formação contínua, favorecendo, consequentemente, a economia interna.

Constata-se que o nível de concordância com a implementação do Sistema Dual no Ensino Superior aumenta com uma escolaridade que é também fator de influência, comparativamente a outras variáveis, num maior número de opções.

Ao termos que, em síntese, discutir opções pelo Sistema Dual no Ensino Superior é de relevar a maior aceitação a partir dos conhecimentos formais adquiridos: mais do que as condições relativamente a trabalhar ou a não trabalhar ou ainda do que as ocupações e profissões exercidas, mais ainda do que a idade dos respondentes.

Este estudo testou, em particular, se a predisposição dos respondentes para a adoção do Sistema Dual no Ensino Superior existe, antes de mais, e se se associa a perfis de natureza sociodemográfica como a idade, a ocupação, a educação ou a profissão.   

Os testes de associação adotados deixam perceber que a vontade pela adoção de um paradigma de ensino aprendizagem, assente na associação entre ´saber´ e ´fazer´, não tem grande distinção pela idade, situação ocupacional, educação ou profissão.   

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Delors, J. (1996) EDUCAÇÃO UM TESOURO A DESCOBRIR Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. (Disponível em http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/database/000046001-000047000/000046258.pdf, acedido em 19/04/2019)

Dewey, J. (1979) Democracia e educação: introdução à Filosofia da Educação. São Paulo, 4ª ed.: Companhia Editora Nacional.

Ionescu, A. M. e Cuza, A. I. (2012) How does education affect labour market outcomes? Review of Applied Socio- Economic Research, Vol. 4, Issue 2: 130-144.

MEC (1997) La educación finlandesa en síntesis (Disponível em https://www.oph.fi/download/151278_education_in_finland_spanish_2013.pdf acedido em 07/04/2019).

Oliveira, V.M.; e Navega, F. (2017) Relatório Nacional sobre a implementação da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável – Portugal. Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Pereira, A. C. Ribeiro, (2012) Ensino dual em Portugal: estudo e trabalho na educação secundária. Universidade de Aveiro Departamento de Educação. Disponível em (https://ria.ua.pt/bitstream/10773/10171/1/tese_ana%20pereira.pdf, acedido em 19/04/2019).

Pestana, M. H.; e Gageiro, J. N. (2014) Análise de Dados para Ciências Sociais. A complementaridade do SPSS. Lisboa, 6ª edição: Edições Sílabo. 

Toffler, Alvin

1984 A terceira vaga. Lisboa: Livros do Brasil

1992 Choque do futuro. Lisboa: Livros do Brasil

United Nations (2015). Transforming our world: The 2030 Agenda for Sustainable Development. Resolution adopted by the General Assembly on 25 September 2015, A/RES/70/1 [Internet]. Geneva; 2015. Available from: http://www.un.org/en/development/desa/population/migration/generalassembly/docs/globalcompact/A_RES_70_1_E.pdf